A celebração do aniversário coincide com a retomada da temporada operística, após dois anos de interrupção: com première no dia 10, María de Buenos Aires (1968), de Astor Piazzolla, ganha contexto atual na concepção do diretor Kiko Goifman, que convidou prostitutas para atuar nas récitas e vai utilizar projeções e técnicas de cinema ao vivo;
No dia 12, data do aniversário do teatro, estreia Fantasmagoria Theatro Municipal de São Paulo, uma mistura de espetáculo-exposição-percurso dirigida pela dupla Daniela Thomas e Felipe Hirsch, com intervenções de integrantes dos corpos artísticos da casa em diversos ambientes do edifício e cenografia composta por peças do acervo
A partir do dia 20, os projetos Carroças Líricas e Cine-Ópera levarão a ópera para as ruas da cidade, seja em projeções em edifícios ou pontos pré-determinados, seja por meio dos catadores de material reciclável que circulam pelo centro da cidade;
A websérie documental Memória Viva da Capital, com direção de André Ferazini, com previsão de lançamento no dia 23, revela, em quatro episódios, parte dos 110 anos do teatro
Um dos principais palcos e cartões postais da cidade de São Paulo celebra 110 anos em setembro. O aniversário do Theatro Municipal é no dia 12, mas as comemorações se estendem até o final do ano. Para os festejos, foi elaborada uma programação com viés contemporâneo, buscando expor ao público a história do edifício e dos seus corpos artísticos, e que convida a refletir sobre a função e a vocação desse espaço em nossa sociedade.
Além da programação que ocorre no interior do teatro, como é o caso da ópera o María de Buenos Aires e da instalação Fantasmagoria Theatro Municipal de São Paulo, que vai percorrer o saguão, a escadaria, o Salão Nobre, camarotes, palco, coxias e área técnica, a programação vai transcender o espaço físico do edifício. Será lançada na plataforma Youtube do teatro a websérie Memória Viva da Capital, com quatro episódios. Pelas ruas da cidade, três catadores de material reciclável irão customizar suas carroças para receber equipamento sonoro, dentro do programa Carroças Líricas, levando trechos de algumas óperas já montadas no Theatro a diversos pontos da cidade. O mesmo vídeo que circulará com os carroceiros pelo centro paulistano, será exibido em pontos espalhados por São Paulo, pelo projeto Cine-Ópera.
Os ingressos para a ópera custam a partir de R$ 20 (inteira) e para Fantasmagoria Theatro Municipal de São Paulo, R$ 30 (inteira).
Para Andrea Caruso Saturnino, diretora geral do Theatro Municipal, as comemorações dos 110 anos têm um significado especial no período delicado em que estamos passando. “A efeméride nos faz lembrar da importância da arte para a sociedade e do seu potencial de resistência e reinvenção, mesmo em tempos turbulentos. Ao longo dos 110 anos, o Municipal foi palco e escadaria de grandes acontecimentos da cidade, fazendo com que ele se consolidasse com uma das mais importantes casas de ópera da América Latina, que produziu e difundiu a música de concerto, a lírica, o balé, o coral, além de acolher o teatro, o circo, a literatura, a música popular, o hip hop, o cinema dentre outras linguagens. O Municipal é uma importante referência para a cidade e segue vivo, recebendo novos públicos, fomentando novas linguagens e dialogando com a riquíssima produção artística de São Paulo, do Brasil e do mundo”, afirma.
É com esse espírito aberto, de desejo de encontros, que o Theatro Municipal preparou uma programação especial para marcar o aniversário. Juntos, os seis corpos artísticos trabalharam na criação conjunta de um espetáculo-exposição, alusão ao acervo vivo, em montagem inédita que levará o público para um insólito percurso por ambientes do teatro normalmente não abertos ao visitante. A convite do Municipal, os artistas Daniela Thomas e Felipe Hirsch são os responsáveis por orquestrarem uma Fantasmagoria Theatro Municipal de São Paulo, que será tão dinâmica quanto o cotidiano do teatro, apresentando uma alternância de elenco e extratos de obras interpretadas.
A primeira ópera encenada desde a reabertura da casa é um tributo ao centenário de Astor Piazzolla e leva aos palcos a primeira montagem de cinema ao vivo no Theatro Municipal, uma ópera-cinema, com concepção e direção cênica de Kiko Goifman e direção musical do maestro da Orquestra Sinfônica Municipal, Roberto Minczuk. Em cena, músicos, bailarinos, artistas circenses e artistas-putas do coletivo DASPU se reúnem para compartilhar com o público a história de María, uma prostituta argentina no submundo portenho, que pode ser facilmente transposto à realidade de muitas outras grandes cidades latino-americanas.
Para além do espaço do teatro, o Municipal dará início à circulação de suas produções por diferentes regiões de São Paulo. Em setembro o projeto Cine-ópera, com projeção de importantes árias de óperas montadas no Municipal, chegará ao extremo leste da capital: à Cidade Tiradentes, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes e ao bairro Guaianases, no CEU Jambeiro. A partir de outubro, começam as circulações dos corpos artísticos.
Ainda dentro das comemorações dos 110 anos, o Theatro Municipal desenvolveu um projeto com os carroceiros que trabalham na região central da cidade, na importantíssima função de reciclagem do lixo produzido diariamente. Apesar de circularem bastante pelo entorno, os carroceiros não frequentam o teatro e, portanto, desconhecem o que se passa dentro do prédio suntuoso. Em parceria com o Pimp My Carroça, movimento que mobiliza catadores da cidade de São Paulo, a ação fará um trabalho de introdução dos carroceiros e seus familiares ao universo do Municipal que culminará na customização de algumas carroças para levarem ópera às ruas por onde passam.
E finalmente, pensando sobretudo no público online, tem websérie documental Theatro Municipal – Memória Viva de São Paulo, com roteiro de Bruna Torres e direção de André Ferezini, abordando diferentes aspectos dos 110 anos do Theatro.
A programação de aniversário reitera o compromisso do Complexo Theatro Municipal de São Paulo em difundir as produções artísticas da casa, levando obras de excelência para públicos diversos e fomentando o constante diálogo com a cidade.
María de Buenos Aires
No ano do centenário de Astor Piazzolla (1921-1992) e após quase dois anos sem montagens operísticas, o Theatro Municipal leva ao palco a história da prostituta María da Buenos Aires, uma ópera-tango com música do compositor e bandoneonista argentino e libreto de Horacio Ferrer, um dos grandes parceiros artísticos do músico. Nesta montagem do Municipal, a concepção e direção cênica é de Kiko Goifman, diretor de cinema que assina sua primeira produção operística. A direção musical é de Roberto Minczuk, titular da Orquestra Sinfônica Municipal, que divide a regência com o maestro-assistente Alessandro Sangiorgi no comando do grupo.
A ópera, que estreou em 1968, na capital argentina, conta a história de María, uma prostituta que protagoniza o submundo noturno de Buenos Aires. Na montagem, estão presentes membros desse universo, além de um poeta-narrador que também é um duende, marionetes sob o seu controle e um circo de psicanalistas. Vários elementos do libreto sugerem paralelos entre María e a mãe de Jesus, ou até mesmo o próprio Jesus.
No elenco, a soprano colombiana Catalyna Cuervo interpreta María, e o barítono argentino Gustavo Feulien é o narrador que compõe o enredo surrealista da Piazzolla. Os cantores dividem o palco com três bailarinos do Balé da Cidade de São Paulo, que se revezam em duetos, e com quatro putas artistas da DASPU, sendo uma prostituta e duas delas travestis, que realizam performances individuais.
O figurino de Adriana Vaz é marcado por roupas sensuais com predominância do preto e branco, para homens e mulheres, fazendo alusão ao universo das noites urbanas. A exceção é María, que se destaca pelas peças marcantes em vermelho. Com elementos contemporâneos da DASPU (a grife foi criada em 2005 pela prostituta e ativista Gabriela Leite e hoje atua como coletivo de resistência para dar visibilidade às mulheres prostitutas e pessoas LGBTQI+ e combater o estigma de puta), mesclando estilos que marcaram o século 20.
No espetáculo, quatro câmeras instaladas no palco registram detalhes de cena da ópera e, junto a imagens urbanas de metrópoles como Buenos Aires e São Paulo captadas previamente, serão cortadas e projetadas ao vivo. A operação é feita pelo próprio diretor, compondo um cine-ópera live, a primeira montagem deste gênero no Theatro.
Ao todo serão oito récitas, entre 10 e 19 de setembro. Em dias úteis, às 19h e aos sábados e domingos, às 17h. Os ingressos custam de R$ 20 a R$ 100.
Fantasmagoria Theatro Municipal de São Paulo
Dirigida por Felipe Hirsch e Daniela Thomas, a instalação Fantasmagoria Theatro Municipal de São Paulo é uma experiência sensorial histórica e artística que vai levar o público a percorrer os diversos espaços do teatro por meio de um espetáculo-exposição-percurso. A visita guiada começa no saguão, passa pela escadaria, dirige-se ao balcão nobre e às suas varandas laterais, vai até Sala de Espetáculos, área dos bastidores e por fim, o palco e a área técnica, onde termina a jornada.
Para contar as histórias e representar os acontecimentos que marcaram seu tempo no icônico prédio centenário, nas curtas interpretações dos trajetos, artistas de todos os grupos artísticos do Theatro se revezam em apresentações performáticas, permeadas por projeções, e integrando a concepção cenográfica, peças do acervo do teatro, como partes de cenários, figurinos e adereços.
Todo o percurso terá duração de uma hora e meia e as visitas serão feitas com o limite de 30 pessoas por horário, respeitando o distanciamento e de acordo com os protocolos de segurança sanitária do Theatro.
As apresentações presenciais no Complexo Theatro Municipal de São Paulo, abertas ao público, estão sendo realizadas com capacidade reduzida de até 30% da casa como medida para garantir a segurança das pessoas com o distanciamento entre os assentos. O Theatro também segue todas as diretrizes das orientações do Plano São Paulo e da Prefeitura Municipal de São Paulo. Para assistir às apresentações dos grupos artísticos do Theatro Municipal de São Paulo, é necessário seguir os protocolos de segurança estipulados no Manual do Espectador, disponível no site da instituição.
Carroças Líricas
Com intervenção artística idealizada pela equipe do Theatro em parceria com o movimento Pimp my Carroça e o coletivo Bijari, catadores de materiais recicláveis que circulam na cidade de São Paulo terão acesso ao universo da música lírica por meio de um processo de imersão com músicos do Theatro.
Três dos catadores que participarão do processo serão selecionados para participar da intervenção urbana e terão suas carroças reformadas e nelas, instalados sistemas de som. Os catadores irão trabalhar o projeto artístico das carroças, com a colaboração do coletivo Bijari para circular pelas ruas da capital, de forma a preencher os espaços sonoros da urbe com música erudita. As intervenções acontecem a partir de 11 de setembro e no dia 20, uma das carroças “pimpadas” estará em exposição no interior do Theatro Municipal.
O Carroças Líricas busca aproximar os catadores locais do entorno do Theatro Municipal e proporcionar uma vivência cultural para essa comunidade. A intervenção valoriza o trabalho e a importância dos catadores no meio urbano, e ao mesmo tempo, leva a música lírica a espaços nos quais ela não está presente.
Websérie especial 110 anos
A série documental Theatro Municipal – Memória Viva de São Paulo narra a trajetória do Theatro Municipal, relatando seus primeiros espetáculos e ressaltando o seu compromisso com diferentes frentes artísticas como óperas, dança, teatro, música, e as artes plásticas. Com episódios quinzenais, começando em 23 de setembro, a websérie dirigida por André Ferezini, com roteiros de Bruna Torres, será dividida em quatro capítulos, com abordagens históricas.
Partindo de diversos personagens que fazem parte da história do local, nos episódios, as câmeras irão circular pelas instalações do Teatro Municipal de São Paulo em planos sequência de grande impacto, revelando toda a estrutura e a identidade do local. Os episódios serão lançados nos canais oficiais do Theatro Municipal no YouTube e no Facebook e poderão ser assistidos pelo público em qualquer momento.
Intitulado “A Construção do Theatro Municipal de São Paulo e seus Impactos na Cidade” o primeiro episódio da série aborda os primeiros anos de existência do Theatro, seu projeto inovador e sua concepção arquitetônica dentro do processo de modernização da capital paulista do início do século. No mês seguinte, o segundo capítulo “Grandes Acontecimentos” narra o conjunto de ações, intervenções, exposições, apresentações e shows de grande impacto cultural para a cidade de São Paulo que aconteceram ao longo do tempo no espaço. Foram concertos, apresentações líricas, de balé e teatrais, leituras de manifestos e atos políticos que marcaram a história do Theatro. Já em “Corpos Artísticos”, terceiro episódio da série, a direção adentra no universo artístico do Theatro Municipal, apresentando artistas, histórias e detalhando o funcionamento dos seis corpos artísticos da instituição: o Balé da Cidade de São Paulo, o Coral Paulistano, o Coro Lírico, a Orquestra Experimental de Repertório, a Orquestra Sinfônica Municipal, e o Quarteto da Cidade de São Paulo. Para fechar a série, no mês de novembro o episódio “Visão de Futuro” aborda os projetos que extrapolam os limites físicos do prédio centenário buscando um diálogo mais próximo, democrático e criativo com a cidade.