O Palco de São Paulo apresenta uma dobradinha lírica latino-americana: Um Homem Só, do brasileiro Mozart Camargo Guarnieri, fará sua estreia paulista em versão encenada, e Ainadamar, do argentino Osvaldo Golijov, a estreia brasileira. As óperas serão apresentadas juntas, a partir do próximo dia 22 de abril.
O brasileiro Caetano Vilela assina a concepção, encenação e iluminação das montagens, enquanto a regência e a direção musical ficam a cargo do maestro chileno Rodolfo Fischer. Ao todo serão seis récitas, nos dias 22, 24, 26, 28, 30 de abril e 2 de maio.
Para essa montagem, os títulos foram escolhidos pela qualidade musical e também pela carga dramática dos libretos – escritos por Gianfrancesco Guarnieri (Um Homem Só) e por David Henry Hwang com base em García Lorca (Ainadamar.)
“Os dois textos têm uma carga teatral muito grande e há uma ligação entre as histórias, que abordam, em diferentes visões, o homem em busca da liberdade. José (personagem principal de Um Homem Só) e Lorca apresentam desajustes sociais. José, um homem perdido, em busca de si; Lorca é um artista homossexual com ímpetos republicanos, perseguido pela falange de Franco. Ambos estão em descompasso com a sociedade que os rodeia. Porém, tratando de aspectos cênicos, Um Homem Só é uma ópera de fato e Ainadamar tem um diálogo muito forte com o teatro e o cabaré”, comenta Caetano Vilela (confira a entrevista completa com o diretor cênico publicada no programa impresso da ópera, vendido a R$ 10 no Municipal nos dias das récitas.)
O diretor escolheu estéticas distintas para cada um dos títulos, mas que dialogam de forma a criar uma unidade no espetáculo. Para Um Homem Só, Vilela se inspirou nos filmes expressionistas. “Trabalhamos com distorções, sombras e inclinações. O relógio está presente como comandante da vida deste Homem”, diz Vilela. Já em Ainadamar, Vilela usa poucos elementos de cena – um tablado e dez portas – e desenha a atmosfera com luz.
O elenco de Um Homem Só é formado apenas por cantores brasileiros, com nomes de destaque como o barítono Rodrigo Esteves, que recebeu excelentes críticas por seu Iago, na mais recente montagem de Otello no Municipal. Completam o elenco Luciana Bueno, Saulo Javan, Miguel Geraldi e Rubens Medina.
No elenco de Ainadamar, destaques para a soprano Marisú Pavón, que já atuou nas principais salas de concerto da argentina e em festivais de música barroca na França, Espanha, Holanda, Bélgica e Suíça; e para o contratenor italiano Luigi Schifano, que foi aluno de Renata Scotto e se destaca mundialmente em um dos mais raros registros vocais. Completam o elenco Camila Titinger, Alfredo Tejada, Carla Cottini, Monique Corado, Rodrigo Esteves, Rubens Medina, Miguel Geraldi e para o ator Jarbas Homem de Mello, que viverá o “alter-ego” de Garcia Lorca.
Um Homem Só
Ópera em um ato, composta por Mozart Camargo Guarnieri, com libreto do teatrólogo Gianfrancesco Guarnieri escrito na década de 60. Conta a história de um homem oprimido pela sociedade: José Pires de Assunção — homem simples, pequeno funcionário, pai de um filho, dono de um canário cantador e de um cachorro vira–lata chamado Barão, amigo único de um único amigo, Antônio, que sucumbe diante dos problemas, barreiras, rotinas que lhe são impostos pela vida cotidiana.
Ainadamar
A ópera em três imagens, do compositor argentino Osvaldo Golijov e libreto de David Henry Hwang, traz como protagonista a atriz catalã Margarita Xirgu (1888–1969), exilada da Espanha pela ditadura franquista e naturalizada uruguaia. No último dia de sua vida, em Montevidéu, Xirgu relembra sua amizade com o poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca, fuzilado durante a Guerra Civil Espanhola – Ainadamar (fonte de lágrimas, em árabe) é o lugar de sua execução, em Granada.
Os ingressos custam entre R$ 50 e 120, com meia entrada para todos os setores, e podem ser adquiridos na bilheteria do Theatro Municipal ou pelo site da empresa Compre Ingressos: http://www.compreingressos.com/theatromunicipaldesaopaulo.