O evento “Os Involuntários da Pátria – Ensaios de Antropologia II” marca o lançamento do segundo volume da coletânea reúne artigos e textos produzidos entre 2002 e julho de 2025, período posterior ao livro A inconstância da alma selvagem. O primeiro volume, A floresta de cristal, foi lançado em 2024. Assim como nele, os capítulos desta edição, em grande parte já publicados em meios especializados ou em outras línguas, foram revisados e atualizados para esta nova publicação.
17h – COSMOPOLÍTICA(S)
Conferência de Eduardo Viveiros de Castro com mediação de Renato Sztutman
A cosmopolítica, tal como definida em ato nas três fórmulas que o pensamento indígena nos propôs — sobre os conceitos de mundo, de humanidade e de política —, implica a decisão de explorar, no pensamento e na ação, todas as possibilidades de recomposição das dimensões materiais e espirituais da vida humana danificadas pela economia política do capitalismo, neste momento em que a marcha do progresso se aproxima do “muro energético do Capital”, e que as condições de habitabilidade da Terra se deterioram em ritmo crescentemente acelerado. Sair do capitalismo é retomar a Terra pela terra: parcela por parcela, lugar por lugar, zona por zona. Retomá-la, isto é, redescobri-la. Uma retomada que assuma a causa da terra e o sentido de povo usurpados pelos imaginários políticos dos fascismos e dos etnonacionalismos. Enquanto houver tempo, e mundo o bastante.
Eduardo Viveiros de Castro é antropólogo brasileiro, conhecido por sua crítica às concepções eurocêntricas na antropologia e pelo estudo das cosmologias indígenas, especialmente nas sociedades amazônicas. Entre suas contribuições teóricas mais significativas está a noção de “perspectivismo”, que postula que diferentes seres – humanos, animais e espíritos – percebem e experimentam o mundo de maneiras distintas, como cada uma dessas perspectivas sendo igualmente válidas.
Renato Sztutman é professor do Departamento de Antropologia da USP e pesquisador do Centro de Estudos Amerindios – CEstA/USP. É autor do livro O Profeta e o principal (Edusp/Fapesp, 2012)
18h – Eu, Deleuziano?
Entrevista com Eduardo Viveiros de Castro
por Peter Pál Pelbart
“Deleuze me deixava perplexo, mas não me intimidava. Sua erudição não era manejada como uma arma de humilhação em massa, como ocorre com a maioria dos filósofos contemporâneos e sobretudo seus comentadores. Sua filosofia, como disse Clément Rosset, não tem manteiga, é como uma torrada seca. Mas sua secura não o impediu de dizer coisas espantosas. Deleuze tornava a filosofia algo acessível, sem um pingo de vulgarização. Eu entendia, ou quase-entendia.
Devir-indígena não é imitar, mimetizar, copiar um modelo. É navegar de conserva com a alteridade, caminhar em aliança com o outro, juntar forças em um paralelogramo, gerar uma resultante com impacto suficiente para derrubar os poderes do mal. A ideia de encarar o virtual como virtual, não o atualizar porque não é seu, é não trair a diferença. É não trapacear com a diferença e esquecer que houve quinhentos anos de genocídio. Não dá para destruir um povo e depois pedir ajuda a quem você destruiu. Agora, manter isso o tempo todo na sua cabeça é fundamental. Multiplicar o mundo seria isso: tornar esses mundos possíveis, virtuais, mas não atuais para você, e ver o que se faz com isso numa situação em que o mundo está desabando.”
Peter Pál Pelbart é filósofo, ensaísta, professor e tradutor nascido em Budapeste, em 1956, e radicado no Brasil. Residente em São Paulo, Pelbart atua como professor na PUC-SP, onde coordena a Companhia Teatral Ueinzz, composta por pacientes psiquiátricos do hospital-dia A Casa. Ele também leciona no Departamento de Filosofia e no Núcleo de Estudos da Subjetividade do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.
Participação:
Renato Sztutman
Eduardo Viveiros de Castro
Medição:
Peter Pál Pelbart
O evento “Os Involuntários da Pátria – Ensaios de Antropologia II” marca o lançamento do segundo volume da coletânea reúne artigos e textos produzidos entre 2002 e julho de 2025, período posterior ao livro A inconstância da alma selvagem. O primeiro volume, A floresta de cristal, foi lançado em 2024. Assim como nele, os capítulos desta edição, em grande parte já publicados em meios especializados ou em outras línguas, foram revisados e atualizados para esta nova publicação.
Participação:
Renato Sztutman
Eduardo Viveiros de Castro
Medição:
Peter Pál Pelbart
17h – COSMOPOLÍTICA(S)
Conferência de Eduardo Viveiros de Castro com mediação de Renato Sztutman
A cosmopolítica, tal como definida em ato nas três fórmulas que o pensamento indígena nos propôs — sobre os conceitos de mundo, de humanidade e de política —, implica a decisão de explorar, no pensamento e na ação, todas as possibilidades de recomposição das dimensões materiais e espirituais da vida humana danificadas pela economia política do capitalismo, neste momento em que a marcha do progresso se aproxima do “muro energético do Capital”, e que as condições de habitabilidade da Terra se deterioram em ritmo crescentemente acelerado. Sair do capitalismo é retomar a Terra pela terra: parcela por parcela, lugar por lugar, zona por zona. Retomá-la, isto é, redescobri-la. Uma retomada que assuma a causa da terra e o sentido de povo usurpados pelos imaginários políticos dos fascismos e dos etnonacionalismos. Enquanto houver tempo, e mundo o bastante.
Eduardo Viveiros de Castro é antropólogo brasileiro, conhecido por sua crítica às concepções eurocêntricas na antropologia e pelo estudo das cosmologias indígenas, especialmente nas sociedades amazônicas. Entre suas contribuições teóricas mais significativas está a noção de “perspectivismo”, que postula que diferentes seres – humanos, animais e espíritos – percebem e experimentam o mundo de maneiras distintas, como cada uma dessas perspectivas sendo igualmente válidas.
Renato Sztutman é professor do Departamento de Antropologia da USP e pesquisador do Centro de Estudos Amerindios – CEstA/USP. É autor do livro O Profeta e o principal (Edusp/Fapesp, 2012)
18h – Eu, Deleuziano?
Entrevista com Eduardo Viveiros de Castro
por Peter Pál Pelbart
“Deleuze me deixava perplexo, mas não me intimidava. Sua erudição não era manejada como uma arma de humilhação em massa, como ocorre com a maioria dos filósofos contemporâneos e sobretudo seus comentadores. Sua filosofia, como disse Clément Rosset, não tem manteiga, é como uma torrada seca. Mas sua secura não o impediu de dizer coisas espantosas. Deleuze tornava a filosofia algo acessível, sem um pingo de vulgarização. Eu entendia, ou quase-entendia.
Devir-indígena não é imitar, mimetizar, copiar um modelo. É navegar de conserva com a alteridade, caminhar em aliança com o outro, juntar forças em um paralelogramo, gerar uma resultante com impacto suficiente para derrubar os poderes do mal. A ideia de encarar o virtual como virtual, não o atualizar porque não é seu, é não trair a diferença. É não trapacear com a diferença e esquecer que houve quinhentos anos de genocídio. Não dá para destruir um povo e depois pedir ajuda a quem você destruiu. Agora, manter isso o tempo todo na sua cabeça é fundamental. Multiplicar o mundo seria isso: tornar esses mundos possíveis, virtuais, mas não atuais para você, e ver o que se faz com isso numa situação em que o mundo está desabando.”
Peter Pál Pelbart é filósofo, ensaísta, professor e tradutor nascido em Budapeste, em 1956, e radicado no Brasil. Residente em São Paulo, Pelbart atua como professor na PUC-SP, onde coordena a Companhia Teatral Ueinzz, composta por pacientes psiquiátricos do hospital-dia A Casa. Ele também leciona no Departamento de Filosofia e no Núcleo de Estudos da Subjetividade do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.
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